Cecília Meireles
O Cavalinho Branco
À tarde, o cavalinho branco
está muito cansado:
mas há um pedacinho do campo
onde é sempre feriado.
O cavalo sacode a crina
loura e comprida
e nas verdes ervas atira
sua branca vida.
Seu relincho estremece as raízes
e ele ensina aos ventos
a alegria de sentir livres
seus movimentos.
Trabalhou todo o dia, tanto!
desde a madrugada!
Descansa entre as flores, cavalinho branco,
de crina dourada!
Olavo Bilac
A Boneca
Deixando a bola e a peteca,
Com que inda há pouco brincavam,
Por causa de uma boneca,
Duas meninas brigavam.
Dizia a primeira: "É minha!"
— "É minha!" a outra gritava;
E nenhuma se continha,
Nem a boneca largava.
Quem mais sofria (coitada!)
Era a boneca. Já tinha
Toda a roupa estraçalhada,
E amarrotada a carinha.
Tanto puxaram por ela,
Que a pobre rasgou-se ao meio,
Perdendo a estopa amarela
Que lhe formava o recheio.
E, ao fim de tanta fadiga,
Voltando à bola e à peteca,
Ambas, por causa da briga,
Ficaram sem a boneca . . .
Eloí Elizabet Bocheco
ResfriadoA avestruz resfriou-se até as penas. Capivara Sirigaita, médica homeopata, vai à casa da Avestruz. Dieta de chás, Dona Avestruz: de manhã: hortelã de tarde: alecrim de madrugada: mel com mostarda e pronto, tá curada. Mando a conta no fim do mês Antes de abrir, conte até três. Assinado: Capivara Sirigaita - Médica Homeopata.
Todas três poesias brincam com a sonoridade das palavras, utilizam a rima para despertar o interesse,a de Cecília Meireles utiliza da idéia de sentimento com cores para fazer com que o pensamento voe em seu poema.Olavo Bilac utiliza também o cotidiano de toda criança, seu sentimento de posse.
Já a poesia de Eloi Elizabet Bocheco além da rima utiliza, da vivência de seu cotidiano, que criança nunca resfriou-se, que criança nunca tomou um chá para aliviar alguma dor. E as três utilizam também o humor através da alegria do cavalo correndo com sua crina ao vento, da boneca que acaba destruída ou da avestruz ser tratada por uma capivara.